segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Carta ao coração

Hoje sou grata ao meu lado emocional.
Não por ele ter me ajudado a justificar algum ato falho ou a falha em algum ato, mas por ele me ajudar a viver de uma maneira diferente...
Nem melhor, nem pior. 
Diferente.

Meu lado emocional me deu, há algum tempo, e me dá diariamente, mesmo que alguns dias eu precise de mais concentração e paciência, a capacidade de aprender alguém. 

[E se você quiser acho que o seu também pode te ajudar com isso. (Vale para a família também!)]

Pois é... a gente conversa.

Eu e o coração.
Tentamos excluir a razão por alguns minutos, apesar de sua quase invencibilidade na luta contra nós dois. Às vezes ela cansa e deixa ele falar. 

E quando ele resolve falar... 


Foi há algum tempo que ele gritou comigo pela primeira vez, depois de muito dormir aqui dentro do peito. 


Talvez ele seja diferente dos outros vermelhinhos que pulsam por aí... Talvez ele seja só mais um, mas um que resolveu abrir a boca.


Foi ele quem silenciou a razão e que, quase como uma ordem, me disse: tire seu tempo para aprendê-lo, para entendê-lo! É ele quem, até hoje, de vez em quando, bate um papo... troca uma ideia com essa lucidez exagerada e a convence de que a dona de tudo aqui, eu, tenho muito tempo... 


Ela pode entrar nessa, pode estar nessa. Confia em mim!


Claro que o coração tem outras funções importantes e às vezes ele precisa se preocupar em me manter viva. 


E é nessas horas que a safada da razão dá pulos de alegria! 

Ele, discreto, ri dela... Fica ali no cantinho dele, trabalhando, só esperando ela parar para tomar fôlego... E quando ela senta, depois de pular e pular, já fatigada, ele senta logo ao seu lado e todo poético, todo sutil, cheio de carinho, começa a falar... 

E acontece uma conversa gostosa, exatamente da maneira que deveria ser toda conversa entre a razão e o coração. Os dois, juntos, exercitam a lembrança da importância do "nem 8, nem 80" e, sem pestanejar, colocam os pulmões para trabalhar com um suspiro ou com uma respirada mais longa... fundamentais.


O líder do meu lado emocional, cuja capacidade é muito maior do que apenas 72 batidas por minuto, é o responsável pela gratidão de hoje. Devo agradecer-lhe pelas duradouras conversas com a senhora razão e agradecer-lhe, também, por me lembrar de que o tempo é, sim, valioso, mas: pra que vale o tempo se não for usado da maneira como queremos utilizá-lo, sempre que possível, e não da maneira como (dizem por aí) devemos utilizá-lo?



Querido coração,

Obrigada por me mostrar, diariamente, o quanto é gostoso amar.
Obrigada, também, por me fazer entender que amar é aprender quem está ao seu lado.

Lembro-me de quando você dizia: as pessoas vão te perguntar se você não tem mais o que fazer. Ele vai achar que você é insana! E eu ria e chorava ao mesmo tempo, sentindo você quase pulando pra fora da caixinha.

Lembro-me das vezes que você me lembrou de que o importante era eu - e apenas eu - ter a certeza de que estou no caminho certo. Me lembrou que, como em qualquer vida normal e saudável, algumas coisas iam querer fazer com que parecesse que eu tivesse me perdido, mas que juntos - eu, você e a razão - aceitaríamos esses acontecimentos como ocasiões naturais, fases talvez... personificadas ou não.

Lembro-me de quando deitávamos no travesseiro e só queríamos pegar no sono com urgência e esperar por um novo dia. Mas me lembro também do quanto é difícil adormecer quando queremos que o dia não acabe mais, por ter sido tão bom...

Ah, coração... me lembro de tanta coisa... E todo dia me lembro de algo novo!
E te faço ficar aqui, esperto, acompanhando as lembranças; levando bastante sangue pra parte superior do meu corpo para que essas lembranças sejam perfeitamente processadas até ficarem cem por cento armazenadas no cérebro...

Me lembro da importância de lembrar do que aprendi, mas, mais do que isso, da importância de lembrar de aprender... de aprender alguém... de aprender o amor... todos os dias.

Agora estou lembrando de quando lhe contei: "ele disse que não tem mais nada pra aprender, que o que tinha que aprender já foi aprendido."... 

Quem riu dessa vez foi você. 
Uma risada longa, sem perder a seriedade: surpresa de ambos quando perceberem que o aprendizado é diário. E é o que lhes faz mais fortes!

Portanto, coração, venho, através desta, lhe contar qual não foi a minha surpresa com o fato de, em menos de 48 horas, ter aprendido que macarrão bom é macarrão esquentado na panela e só colocado no prato depois que o fundinho da panela estiver queimado (nada de microondas!) e que teoria (sabe, aquela tese formulada? aquela opinião?) é boa quando é exclusiva. Tão carinhosamente formulada que recebeu um título composto - como as teorias dos grandes gênios - e apresenta particularidades baseadas, sem receios, em gostos pessoais.

Novamente, obrigada. 
Falamos amanhã.

Durma bem.

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