segunda-feira, 15 de julho de 2013

Quero um conto

Gosto muito de um livro autobiográfico e extremamente humano escrito por Ondjaki, romancista nascido em Luanda, Angola. Os da minha rua é um conjunto de contos que narra o universo de uma criança real, com os pés, literalmente, no chão. Peguei o livro, passei os olhos nos contos e fiquei em dúvida entre dois. Escolhi um deles para ler, muito pela citação que antecipa o conto, atribuída pelo autor a sua avó, Catarina: antigamente as pessoas eram pessoas de chegar. Não sabíamos fazer despedida

   Ondjaki atribui um cheiro às despedidas: um cheiro de amizades que se transformam em recordações molhadas com bué de lágrimas, com muitas lágrimas. Segundo ele, as despedidas chegam como se fossem fantasmas mujimbeiros, que dizem segredos do futuro, nunca pedidos que ninguém os fosse soprar em seu ouvido de criança.

        A leitura do conto me ajudou a definir mais alguns desejos; mais alguns itens que, como os das outras postagens, quero defender com unhas, dentes e com minha eterna teimosia. 

Quero.

Quero me despedir apenas quando for necessário e acreditar que despedidas podem ser apenas um até logo.
Quero não ter que dizer até logo quando tudo o quero é ficar.
Quero fazer do presente meu melhor momento. 
Quero fazer do meu presente, um presente para alguém.
Quero recordações molhadas com bués de lágrimas de alegria.
Quero os segredos do futuro guardados a sete chaves.

Quero!

Quero, como único sopro no meu ouvido de criança, palavras sinceras.


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