Gosto muito de um livro autobiográfico e extremamente humano
escrito por Ondjaki, romancista nascido em Luanda, Angola. Os da minha rua é um conjunto de contos que narra o universo de uma criança real,
com os pés, literalmente, no chão. Peguei o livro, passei os olhos nos
contos e fiquei em dúvida entre dois. Escolhi um deles para ler, muito pela citação que
antecipa o conto, atribuída pelo autor a sua avó, Catarina: antigamente as
pessoas eram pessoas de chegar. Não sabíamos fazer despedida.
Ondjaki atribui um cheiro às despedidas: um cheiro de
amizades que se transformam em recordações molhadas com bué de lágrimas, com
muitas lágrimas. Segundo ele, as despedidas chegam como se fossem fantasmas
mujimbeiros, que dizem segredos do futuro, nunca pedidos que ninguém os fosse
soprar em seu ouvido de criança.
A leitura do conto me ajudou a definir mais alguns desejos; mais alguns itens que, como os das outras postagens, quero defender com unhas, dentes e com minha eterna teimosia.
Quero.
Quero me despedir apenas quando for necessário e acreditar que despedidas podem ser apenas um até logo.
Quero não ter que dizer até logo quando tudo o quero é ficar.
Quero fazer do presente meu melhor momento.
Quero fazer do meu presente, um presente para alguém.
Quero recordações molhadas com
bués de lágrimas de alegria.
Quero os segredos
do futuro guardados a sete chaves.
Quero!
Quero, como único sopro no meu ouvido de criança, palavras sinceras.
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