Distrito rural, localizado no extremo sul (e que extremo!) de
São Paulo. Partindo da Avenida Paulista, aproximadamente 2 horas até lá.
Eis
Parelheiros.
Surpreenda-se ao saber que o distrito tem terminal de ônibus
metropolitano e aproximadamente 147 mil habitantes.
Pois bem: hoje fui até Parelheiros. Passei por uma marginal, por inúmeras árvores e até por uma
represa. Cheguei até a ver suas canoas de aluguel e um possível afogamento,
atendido com maestria por duas viaturas do Corpo de Bombeiros. Cheguei. Constatei que, pra lá do centro de Parelheiros, mas ainda na Grande São Paulo, a vida continua a existir... Só que de um jeito um pouquinho
diferente. Pra lá da bolhinha em que nós vivemos, fica a Aldeia Indígena
Tenondé Porã, onde passei algumas horas da manhã de hoje.
Várias casas, muito
semelhantes umas das outras, feitas de barro e com o chão de terra batida,
distribuídas num terreno enorme e cheio de árvores, são acompanhadas por três
construções especiais e diferenciadas das outras, um investimento do Governo de São Paulo:
escola, creche e unidade básica de saúde. Além de uma mais especial ainda,
apesar de ser a mais tradicional, a casa de reza dos indígenas.
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Na chegada à UBS, a médica é recebida pelos cachorros - que deveriam ser
brancos, mas são marrons - com toda a alegria do mundo e já sabe que inalações,
consultas e curativos a aguardam.
Na escola, crianças de todas as idades, com
os narizes escorrendo, as calças curtas e os pés no chão, sentam nas carteiras para aprender português, sem se esquecer do tupi guarani. Entre eles, a
comunicação é só em Guarani.
Moças surpreendentemente bonitas e
descoladas e muitos moços estudam ciências, biologia, física, matemática e chegam
até a usar seus aparelhos celulares (iguais aos nossos!) para fazer os calculos. Nem todos os professores são indígenas e moram na tribo. Mas a direção da
escola é, indubitavelmente, nativa.
Na casa de reza, o que aguarda os indígenas nem se compara à algum professor ou paciente. É uma energia sobrenatural. O
Pajé, que não costuma ficar desfilando sua soberania pela Aldeia, aparece por
lá para narrar seus sonhos que, segundo os aldeões, antecipam a realidade. As
crianças dançam e cantam. Os mais velhos fazem palestras de sabedoria.
Na casa
de reza dos Tenondé Porã, dois violões estão pendurados na parede e uma
fogueira sem chamas, próxima à parede que fica do lado contrário. Existe, também, um altar com um tamanho e uma beleza não consideráveis.
Na casa de reza dos Tenondé Porã, o cheiro é forte. Tão forte quanto a energia. De cinzas que
queimaram, misturadas ao chão de terra batida.
Os índios não andam nus e, ao questionar um deles sobre
isso, obtive uma resposta em tom de extrema obviedade: ‘temos que andar
vestidos, não é?’. O autor da resposta usava boné Tapout, camiseta do God Of War e tennis.
Por
outro lado, fumam cachimbos que só existem na tribo, fabricam seus próprios instrumentos
de trabalho e algumas coisinhas artesanais para vender.
Eles são livres para sair da Aldeia, mas poucos o fazem.
As crianças têm, obviamente, seus pais e
mães, mas convivem umas com as outras como se fossem todas irmãs. Até brigam como irmãs.
Por falta de tempo, não consegui matar diversas
curiosidades; principalmente sobre higiene, hábitos e relacionamentos afetivos; mas fui embora
satisfeita, ao saber que os Tenondé ainda fazem a dança da chuva e acreditam nela.
O motivo da
divulgação que, apesar de simples e resumida, talvez valha a pena, é simples: favorecimento total e irrestrito
àqueles que tentam escapar da realidade acomodada, fácil, seja indo até a esquina de casa ou
até outro país.
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Imagens podem dizer mais que mil palavras.
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